sábado, 2 de setembro de 2017

Um texto sem pé nem cabeça, só sentimentos espalhados na escuridão.


Era sexta feira, eu queria encontra-lo, com toda certeza eu teria ido vestida para matar, depois de um banho perfumado, um vestido de menina e olhos delineados. Mas ele não queria de jeito nenhum, e mesmo insistindo muito, eu falhei naquela missão. Eu deixei pra lá. Coloquei minha roupa velha de malhar, meu tênis surrado, uma toalha na bolsa, e lá fui eu treinar. Enquanto morria levantando dois simples pesinhos de 2 quilos - acredite a primeira serie é moleza, depois seu braço nem se mexe mais - o celular vibrou.

Até parecia uma música dos anos 70. Não consigo nem me lembrar se guardei os pesos. Sai enxugando o suor, abandonando o treino sem nem olhar para trás. Depois de tanto tempo eu iria encontra-lo. E eu não poderia estar pior - era a maldição do Perola Negra. Ele me abraçou ao me ver, mas eu fiquei parada parecendo uma retardada, congelada sem fazer nada. É engraçado como a gente planeja tanta coisa, e na hora não lembra nem que tinha planejado algo. E faz tudo errado, e age como se tivesse algum problema de deficit de atenção. Parecia até um primeiro encontro, a gente não sabia o que falar. Eu queria dizer que ainda não aprendi dizer adeus. Mas ia soar sertanejo demais para ele, enquanto para mim era a mais pura verdade. Mas diferentemente deles, tenho tanto pra dizer que o silêncio nunca será o bastante.

Lembro quando ele me deixou sem nem me dizer o porque. Ai então eu deixei ele, e acho que também não disse o porque, apenas sumi. Mas depois de tanta coisa, quando estávamos procurando um lugar para morar, e ele desistiu, e ainda alegou que parecia que eu o estava usando, para sair de casa. Podia parecer besteira mas para mim, naquela época, foi o fim. Eu não queria começar algo assim. Significava muito mais do que dividir as contas. Se tratava sobre o quanto a gente poderia compartilhar. O quanto era dar e receber. Várias diferenças poderiam passar. Mas aquele ponto era crucial. E eu era dramática e egoísta de mais, para entender que só porque ele não queria morar comigo, não significava que ele não me amava. Esse era o motivo, mas eu não disse nada.

O nosso amor parecia uma luta no inverno depois da muralha. Um amor quente num lugar frio. A gente pode quase tudo: correr, atacar, defender e brigar. Mas se paramos por um instante tudo se congela. Cansa. E nem mesmo um copo de Burbom resolve. O nosso amor caminhou sem volta rumo ao congelamento. E o inverno estava apenas começando. E não soubemos nos preparar para esse inverno. Não recolhemos mantimentos. Não nos mantivemos juntos nos aquecendo. E então congelou. E cada um seguiu o seu caminho sozinho com os lábios rachados e o coração congelado e frio.

Mas depois de algumas estações estava eu parada na frente dele, tagarelando qualquer coisa que viesse na minha cabeça. Com o coração completamente derretido. Eu provavelmente não disse nada do que planejava. Naquele momento, eu nem sabia o que planejar significava. Mas eu sabia que queria dizer que o amava e o beijar mais uma vez. Mas eu não fiz nada disso, apenas gastei o último continue do nosso amor. E eu agora com apenas 24 anos, mas me sentindo uma idosa experiente, olho para trás e coloco a culpa na idade, eu não podia culpa-lo, e também não sou masoquista para por a culpa toda sobre mim.
Estava decidido. Ninguém tem culpa. Ninguém poderia prever. Eram tão jovens. Eram tão belos. Era o casal mais lindo da zona leste - talvez o mais inteligente também, ou nem tanto já que não se mantiveram juntos. Mas talvez tudo precise acabar para que o mundo comece a fazer sentido. Eu sempre soube que lágrimas combinavam com amor, mesmo sabendo que não deveria ser assim. Hoje eu entendo que o caminho mais complicado nem sempre é o melhor, e se for, mesmo assim a gente não sabe como escolher pra onde ir. E por enquanto apenas nos despedimos, e seguimos o nosso caminho, ele para um lado e eu para outro. A vida é uma droga mesmo, daquelas que viciam e a gente só faz merda, pra se drogar mais um pouquinho.

Melissa Lobo.